quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dez anos de uma injustiça exemplar

Faz 10 anos que o jornalista Pimenta Neves, então uma grande figura do Estadão, resolveu que se a ex-namorada não queria ficar com ele, não ficaria com ninguém. Saiu armado de casa, foi persegui-la em um haras e, pelas costas, deu por fim a carreira da moça por aqui. Hoje, dia 30 de setembro, a douta Justiça decidiu sua condenação: 400 milhas para a família da vítima, e ficamos nisso, por enquanto. Prisão? Nem um dia, nesse tempo que deve ter sido um calvário para os pais da moça. Fico imaginando se o pai dela, em um ato de desespero, resolvesse matar o assassino. Ele seria preso? Aposto que sim. E ainda seria alvo de reações indignadas dos magistrados, pois no império do Estado de Direito não se pode fazer justiça com as próprias mãos. Nem com elas, nem com mão nenhuma, se há bons advogados, bastante dinheiro e contatos fortes em jogo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Denúncias e falta de propostas

A matéria de domingo sobre as leis trabalhistas publicada pelo Globo mostra o quanto as denúncias de ocasião da campanha impedem a discussão de assuntos realmente importantes para o destino do país. As possibilidades que a tecnologia oferece para que funcionários trabalhem em casa podem ser muito interessantes para as empresas, seus empregados e a própria sociedade, mas precisam de regulamentação. Para os trabalhadores, trata-se de uma chance de aumento de renda e de qualidade de vida, na medida em que o tempo perdido em deslocamentos, por exemplo, pode servir para aumento de produtividade ou maior atenção à família. As empresas podem diminuir sua estrutura física e obter ganhos de custos, que, repassados aos preços, aumentam sua competitividade. E, para a sociedade, sobretudo nas grandes cidades, significa a diminuição da poluição e da pressão sobre o trânsito, viabilizando um investimento maior em educação do que na construção de vias ou metrô. Mas esse movimento no mercado de trabalho só terá escala quando houver segurança jurídica para todos os envolvidos, o que depende de uma legislação moderna e adequada, que poderia ser proposta pelo Executivo. O que os candidatos pensam disso? Não sabemos ou saberemos, mais uma vez.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mágicos de araque


É incrível como se ganha dinheiro fácil neste país, só eu não aprendo! Um marqueteiro fatura a eleição, todos os outros perdem, e os candidatos continuam achando que eles é que sabem das coisas. No debate da RedeTV!, deu pena de ver o Serra fazendo malabarismo para falar do Lula. O sujeito tem 110 anos de política e gaguejou. Não seria mais fácil ele simplesmente dar a sua opinião, esquecendo das pesquisas "quantitativas e qualitativas"? Algo do gênero: "Vou manter a política de transferência de renda e incentivo ao consumo mas vou melhorar a gestão da educação, da saúde, etc., etc.?". Se o discurso colar, ótimo, se não colar, faz parte, pelo menos evita o vexame. E a Dilma, que todo mundo achava que ia se complicar, passou incólume.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Campo de trabalho ampliado

Com a extinção da punição, presente de aniversário dado pelo STF ao Maluf pelos 79 anos de serviços prestados ao país, os traficantes podem pensar agora em substituir os aviões jovens, sujeitos a penas mais brandas, por velhinhos, completamente liberados. É mais um mercado de trabalho, ninguém segura este país!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

JB antigo faz falta

Já faz algum tempo que eu, quando passo de carro pelo Caju em direção ao Centro, viro o rosto para a direita. Com o sepultamento do JB, um corpo sem alma que finalmente aceitou seu destino, entendi a razão. Para evitar a nostalgia, não queria olhar para o prédio que, por sintoma, se tornou um hospital.

Desde adolescente, em minha casa, não especialmente politizada, só se comprava o JB. Passei a gostar de jornal assim, lendo a única publicação liberal que minha geração conheceu. Castelinho, Zuenir, Verissimo, Toguinhó, Fritz, Figueiredo, Werneck, Ancelmo, Noblat, Xexéo não eram só verniz do conservadorismo, mas uma mistura de ideias bem interessante num espaço que aceitava e incentivava a diversidade.

O JB, com todos os pecados da grande imprensa, dava prazer. Lembro de pelo menos um caderno especial, sobre a fome, que ficou guardado muito tempo em meu baú e talvez tenha sido a única coisa que me emocionou em jornalismo. Não guardei, mas deveria, um texto do Dapieve no Caderno B sobre o Kenny G que me fez rir por dias.

O único jornal em que eu realmente quis trabalhar foi o JB. Fica para a próxima.