quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cadê os remédios que curam?

Teoria da conspiração: qual foi a última descoberta de medicamento capaz de curar uma doença de que você se lembra? Para micose, câncer, qualquer coisa? Já os de manutenção estão na ordem do dia. Coquetéis para Aids, controle do diabetes, disfunção erétil - existe sempre uma novidade surgindo. Se a pesquisa ficar somente na mão dos laboratórios, vão acabar desinventando a penicilina. Imagine-se executivo de uma empresa do ramo farmacêutico, com bônus milionário no final do ano, procurado por dois cientistas: um com proposta de cura e outro, de controle. Uma porrada de dinheiro de uma vez, e adeus, ou uma porrada de dinheiro por anos e anos a fio. Ah o mercado, um santo remédio...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mercado financeiro, o risco do poder absoluto

Espero que o Serra esteja à esquerda do PSDB mesmo, como sempre pareceu, caso vença a eleição. Os governos FFHH (by Elio Gaspari) tiveram a política econômica inteiramente definida por representantes do mercado financeiro. O que pouca gente se dá conta, quando dizem que no governo Lula os bancos também ganharam muito dinheiro, é que poder de compra tem valor relativo. Se mora numa cidade em que todos ganham 25, e você ganha 50, seu poder de compra é o dobro dos demais. Se ganha 40, mas o resto ganha 10, seu poder de compra é quatro vezes maior. Quem está no mercado financeiro faz bem essa conta e cria políticas que garantem parâmetros muito favoráveis. Ou seja: no governo Lula, os bancos tiveram grandes lucros, como deve ser em qualquer país capitalista (imagine o seu dinheiro e o das empresas guardado em cofres, por medo de quebradeira). Mas pessoas e empresas de outros setores também tiveram belos resultados, o que diminuiu, relativamente, o peso dos bancos. Se voltar ao que era, teremos concentração de renda certa, perderemos todos. Ou quase todos.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dez anos de uma injustiça exemplar

Faz 10 anos que o jornalista Pimenta Neves, então uma grande figura do Estadão, resolveu que se a ex-namorada não queria ficar com ele, não ficaria com ninguém. Saiu armado de casa, foi persegui-la em um haras e, pelas costas, deu por fim a carreira da moça por aqui. Hoje, dia 30 de setembro, a douta Justiça decidiu sua condenação: 400 milhas para a família da vítima, e ficamos nisso, por enquanto. Prisão? Nem um dia, nesse tempo que deve ter sido um calvário para os pais da moça. Fico imaginando se o pai dela, em um ato de desespero, resolvesse matar o assassino. Ele seria preso? Aposto que sim. E ainda seria alvo de reações indignadas dos magistrados, pois no império do Estado de Direito não se pode fazer justiça com as próprias mãos. Nem com elas, nem com mão nenhuma, se há bons advogados, bastante dinheiro e contatos fortes em jogo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Denúncias e falta de propostas

A matéria de domingo sobre as leis trabalhistas publicada pelo Globo mostra o quanto as denúncias de ocasião da campanha impedem a discussão de assuntos realmente importantes para o destino do país. As possibilidades que a tecnologia oferece para que funcionários trabalhem em casa podem ser muito interessantes para as empresas, seus empregados e a própria sociedade, mas precisam de regulamentação. Para os trabalhadores, trata-se de uma chance de aumento de renda e de qualidade de vida, na medida em que o tempo perdido em deslocamentos, por exemplo, pode servir para aumento de produtividade ou maior atenção à família. As empresas podem diminuir sua estrutura física e obter ganhos de custos, que, repassados aos preços, aumentam sua competitividade. E, para a sociedade, sobretudo nas grandes cidades, significa a diminuição da poluição e da pressão sobre o trânsito, viabilizando um investimento maior em educação do que na construção de vias ou metrô. Mas esse movimento no mercado de trabalho só terá escala quando houver segurança jurídica para todos os envolvidos, o que depende de uma legislação moderna e adequada, que poderia ser proposta pelo Executivo. O que os candidatos pensam disso? Não sabemos ou saberemos, mais uma vez.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mágicos de araque


É incrível como se ganha dinheiro fácil neste país, só eu não aprendo! Um marqueteiro fatura a eleição, todos os outros perdem, e os candidatos continuam achando que eles é que sabem das coisas. No debate da RedeTV!, deu pena de ver o Serra fazendo malabarismo para falar do Lula. O sujeito tem 110 anos de política e gaguejou. Não seria mais fácil ele simplesmente dar a sua opinião, esquecendo das pesquisas "quantitativas e qualitativas"? Algo do gênero: "Vou manter a política de transferência de renda e incentivo ao consumo mas vou melhorar a gestão da educação, da saúde, etc., etc.?". Se o discurso colar, ótimo, se não colar, faz parte, pelo menos evita o vexame. E a Dilma, que todo mundo achava que ia se complicar, passou incólume.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Campo de trabalho ampliado

Com a extinção da punição, presente de aniversário dado pelo STF ao Maluf pelos 79 anos de serviços prestados ao país, os traficantes podem pensar agora em substituir os aviões jovens, sujeitos a penas mais brandas, por velhinhos, completamente liberados. É mais um mercado de trabalho, ninguém segura este país!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

JB antigo faz falta

Já faz algum tempo que eu, quando passo de carro pelo Caju em direção ao Centro, viro o rosto para a direita. Com o sepultamento do JB, um corpo sem alma que finalmente aceitou seu destino, entendi a razão. Para evitar a nostalgia, não queria olhar para o prédio que, por sintoma, se tornou um hospital.

Desde adolescente, em minha casa, não especialmente politizada, só se comprava o JB. Passei a gostar de jornal assim, lendo a única publicação liberal que minha geração conheceu. Castelinho, Zuenir, Verissimo, Toguinhó, Fritz, Figueiredo, Werneck, Ancelmo, Noblat, Xexéo não eram só verniz do conservadorismo, mas uma mistura de ideias bem interessante num espaço que aceitava e incentivava a diversidade.

O JB, com todos os pecados da grande imprensa, dava prazer. Lembro de pelo menos um caderno especial, sobre a fome, que ficou guardado muito tempo em meu baú e talvez tenha sido a única coisa que me emocionou em jornalismo. Não guardei, mas deveria, um texto do Dapieve no Caderno B sobre o Kenny G que me fez rir por dias.

O único jornal em que eu realmente quis trabalhar foi o JB. Fica para a próxima.

sábado, 28 de agosto de 2010

Minhas cinco canções

Você citaria, de chofre, as cinco músicas de que mais gosta? As minhas mudam um pouco, mas têm mais ou menos uma coerência. Vamos lá, com as brasileiras: Dindi, Retrato em Branco e Preto, Coração Vagabundo, Flora e O que Foi Feito de Vera (ou deverá). Faltaram Cartola, Edu Lobo, Nelson Cavaquinho, Vinicius... E há aqueles que acertam a mão poucas vezes, mas que fazem preciosidades como "Mistérios". Todo mundo devia fazer uma lista, é quase como uma prova de caráter. Feitas as apresentações, você já saberia se dá samba ou Rebolation.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Viúvas já de roupa clara


Está bem engraçado ler jornais depois das duas últimas pesquisas que mostram o Serra afundando. As viúvas de antigamente eram mais fiéis. Aos poucos, as manchetes vão ficando menos agressivas e os articulistas, moderados. Uma imprensa capaz de defender posições de Estado, jornalistas independentes e até uma direita de verdade, a favor do mercado e distante das bocas, fazem uma falta danada ao país. Mas, sem ser Polyana, para quem pegou um resto de ditadura, votou em 89 e viu décadas de inflação, como tudo melhorou.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Caos aéreo, mais uma vez

Vou (ou ia) viajar pela Gol na sexta-feira 13, mas soube pelo jornal da greve planejada pelos funcionários. É dura a vida de quem usa a aviação civil no Brasil. O duopólio de mercado não funciona e a passividade do governo – e da agência reguladora(?) – em relação ao setor é de espantar, ou de desconfiar. Há muito, os dados sobre atrasos dos voos divulgados pela Infraero não refletem a realidade, difícil é avião que sai ou chega na hora estipulada. As empresas vendem o que não têm para entregar (a Gol já cancelou meu voo de volta, no dia 21, e me obrigou a mudar os planos das férias) e fica tudo por isso mesmo, como se não se tratasse de uma questão importante e estratégica para o país. O que é preciso para que as autoridades se mexam? Dez aviões caindo ao mesmo tempo, um mês de céus vazios?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cidadãos na infância


É interessante como ainda somos vistos como cidadãos na infância, pelo poderoso Estado brasileiro e suas corporações associadas. Até outro dia, para se divorciar, de comum acordo, um casal deveria ficar um ano separado, "pensando sobre a decisão". Claro, com a participação de advogados e cartórios nesse duplo tormento. Hoje, se um homem deseja fazer uma vasectomia, precisa pedir autorização à esposa e esperar dois meses entre o pedido e a cirurgia, "para refletir". Se não vê nenhum candidato à altura das necessidades do país, o eleitor tem que comparecer à urna para "cumprir o seu dever". Ora, que nível absurdo é esse de ingerência na vida das pessoas? Se me arrepender de qualquer uma dessas decisões, o Estado não terá um centavo de custo com isso, portanto não é de sua conta se quero ou não ser pai, ficar casado ou votar. Para todas essas situações há, naturalmente, o jeitinho brasileiro, e assim seguimos nossa história de controles e escapes, engraçada apenas para quem vê de fora.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Aos visitantes: eis aqui um espaço para palpites, um desabafo eventual com pitadas de humor e, quem sabe, alguma poesia. Comecemos, pois, com este infeliz hino pátrio. Está na hora de mudarmos essa música marcial com letra ininteligível, de sujeitos perdidos, que jamais será compreendida por 120 milhões de brasileiros. No barato. A sugestão, óbvia, é Aquarela do Brasil, do samba que dá, do mulato inzoneiro, do rei congo no congado. Já pensaram, na Copa, durante o hino nacional, em vez daquelas dungas fechadas jogadores e massa sambando? Espetacular, está lançado o manifesto do eu sozinho. Chega de ostentar lábaro, de clava forte, viva o coqueiro que dá coco!

Eles falam mas não dizem

Estava vendo a Marina numa sabatina, meu provável primeiro voto, e fiquei impressionado, como se ainda fosse possível, com a capacidade dos candidatos de falar sem dizer nada. Os marqueteiros ensinam que qualquer opinião pode gerar reações dos diretamente interessados, então o jeito é fazer promessas vagas que agradam a todos e enrolar os enroláveis jornalistas. Ô raça preguiçosa. Quanto vai ser a carga tributária? "Nossa intenção é diminuir, mas temos que ver as contas públicas?" É a favor do direito ao aborto? "Vamos fazer um plebiscito". Vai privatizar os aeroportos? "Temos que observar qual é a melhor maneira de administrar o tráfego aéreo". Em buraco de paca, tatu caminha dentro? "É preciso avaliar os gostos da paca e o tamanho do buraco". Saudades do maluco do Ciro Gomes, a campanha com ele ia esquentar.

Feio, feio...